FÉ E OBRA DE MÃOS DADAS PARA A VIDA ETERNA.


 (Tiago 2.14-26)
INTRODUÇÃO
Há quem veja, nas Escrituras, um provável conflito entre os escritos de Paulo e os de Tiago, com relação à justificação - se somente pela fé ou também pelas obras. Como veremos no estudo desta lição, a Bíblia não tem discrepâncias. As possíveis divergên­cias são aparentes, e se desfazem sob o estudo cuidadoso dos textos.

I. CONCEITOS DE FÉ E OBRAS

1. A fé. A palavra fé ocorre 244 vezes no Novo Testamento. Pode ser vista com diversos significados: fé comum aos que crêem (Mc 16.17, 18); fé como fruto do Espírito (Gl 5.22); fé como dom, outorgada pelo Espírito Santo (l Co 12.9a); fé como meio para a salvação (ou fé salvífica), conforme Rm 5.1, que é o sentido pelo qual o termo é estuda­do na epístola de Tiago.

2. As obras. No sentido comum, obras são realizações, execuções, ações, procedimentos, atuações, hu­manas. No sentido bíblico, temos acepções como "as obras de Deus", que indicam aquilo que foi e conti­nua sendo feito por Deus (ler Jo l .3; 5.17; Cl.1.16; Hbl.2); "obras da carne"(Gl 5.19-21); e "obras da lei'1 (Rm 3.20), as quais, no sentido da lição em estudo, tratam-se de obras humanas como meio de salvação, como práticas religiosas, orações, penitência, sacrifícios, flagelações, privações, enclausuramento, filan­tropia, doações, etc.

II. O RELACIONAMENTO ENTRE A FÉ E AS OBRAS

1. No Antigo Testamento. Na velha aliança, as obras exteriores ti­nham um valor fundamental.
a)   O tropeço na lei. Tiago diz que"qualquer que guardar toda a lei e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos" (Tg 2.10).

b)   Os sacrifícios. O livro deLevítico dá-nos uma ideia de como Jeová queria que seu povo se relaci­onasse com Ele. Deus exigia santi­dade do Seu povo (Lv 20.26). Por isso, dele eram exigidos sacrifícios os mais diversos, os quais eram obras que apontavam para Cristo, como "sombra dos bens futuros' (Hb 10.1).

2. No Novo Testamento. Para entendermos melhor o assunto, pre­cisamos lembrar que a justificação não é elemento isolado da salvação. Ela se integra com a regeneração, a santificação e, no futuro, à glorifi­cação.

2.1 A abordagem de Paulo.

a)   A justificação de Abraão, Pau­lo não aceita o valor das obras da lei para a justificação do homem. Em Rm 4,1-5, ele diz que mesmo Abraão foi justificado pela fé, sendo-lhe isso imputado como justiça (ler Gl 3.7,8).

b)   O desvaler das obras da lei. O apóstolo, considerando que todos estão debaixo do pecado (Rm 3.9), ressalta que "não há quem faça o bem, não há nenhum só" (Rm 3.12b). "Por isso, nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conheci­mento do pecado" (Rm 3.20).

c ) A maldição da lei. Paulo afir­ma claramente que, quanto à salva­ção pela fé em Cristo, "aqueles, pois, que são das obras da lei estão debai­xo da maldição" (Gl 3.10a), visto que a lei considera maldito todos os que não permanecem "em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las". "Porque a letra (as exigências da lei} mata, e o Espírito vivifica"(2Co3.6).

d) A lei serviu de aio. O apóstolo diz que a lei serviu para "nos con duzir a Cristo, para que pela fé fôs­semos justificados" (Gl 3.24), e con­clui: "Mas, depois que a fé veio, já não estamos debaixo de aio" (Gl 3.25).

e) A justificação é somente pela fé. A Palavra afirma ainda como dou­trina que "o homem não é justifica­do pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo", "para sermos justifi­cados pela fé de Cristo, e não pelas obras da iei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justi­ficada" (Gl 2.16). Vide Gl 5.3,4 e RmS.l.

2.2 A abordagem de Tiago.

a) A fé sem as obras pode sal­var? Tiago faz uma pergunta incisi­va: "Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé e não tiver obras? Porventura, a fé pode salvá-lo?" (v. 14).

b)A fé sem as obras é morta(v. 17). Após exemplificar o caso de um irmão ou irmã necessitados, e despedidos por um crente, que os manda ir em paz, sem, contudo, dar-lhes as coisas necessárias, Tiago afir­ma categoricamente que "a fé, se não tiver as obras, é morta em si mes­ma".

c) A fé demonstrada pelas obras (v. 18). Tiago desafia alguém a mos­trar a fé sem as obras e garante que pode mostrar a fé pelas obras. Ele, como Paulo, toma o exemplo de Abraão, destacando o aspecto visí­vel da fé do patriarca, quando ofere­ceu seu filho para ser imolado (v.21), acentuando que a fé cooperou comas obras e estas aperfeiçoaram a fé, concluindo que "o homem é justifi­cado pelas obras e não somente pela fé" (v.24).

d) O exemplo de Raabe. Tiago diz que Raabe, a meretriz, que aco­lheu os espias enviados por Josué, creu em Deus e foi justificada pelas obras. Ou seja: pelo seu ato consci­ente de que estava acolhendo servos do Deus Altíssimo (v.25).
III. A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ E TAMBÉM PELAS OBRAS
1.   A aparente discordância en­tre Romanos e Tiago.

Não há contradição sobre os en­sinos da justificação pela fé e tam­bém pelas obras, nos livros acima. Romanos trata da justificação do pecador, do ponto de vista de Deus, e como um ato perante Ele; ao passo que Tiago trata do mesmo assunto, do ponto de vista humano, e como um processo contínuo na vida cris­tã, aqui no mundo. O salvo é cida­dão do céu, mas também da Terra.

2. A aparente discordância ex­planada.
Paulo no cap. 4 de Roma­nos (e noutras partes desse livro) tra­ta da doutrina fundamental da justi­ficação pela fé; justificação esta pe­rante Deus, cuja lei o pecador, ago­ra arrependido e penitente, violara continuamente. Na salvação do pe­cador a evocação de obras humanas é um ultraje a Deus. Tiago, porém,no cap, 2 do seu livro, trata da mes­ma doutrina, mas de outro ângulo: o pecador perante o mundo, isto é, o lado visível da justificação; aquilo que o próximo pode ver no crente. O mundo não pode ver a fé, mas vê as obras, isto é, a nova vida do cren­te em Cristo. Portanto, o pecador é justificado pela fé somente em Cristo, na pesença de Deus; mas perante os homens o pecador é justifica do pelas obras da luz vista, nele.

a)  Paulo vê a justificação inici­al Esta é ato meritório de Deus e não da justiça obtida pelas obras da lei ou das obras humanas, quando o ho­mem aceita, pela fé, Jesus Cristo
como Salvador.

b)    Tiago vê a justificação pro­gressiva. É a justificação sob o pon­to de vista das evidências através das obras da fé, ou seja, as consequênci­as da fé. O que, em última análise, irmana-se à santificação, que é o as­pecto da salvação em processo. Isso porque uma fé sem evidências é urna
fé morta. Não é fé salvífica, pois
esta não pode ser estéril.

c)As causas da justificação. Não é a fé inconsequente nem as obras da lei que justificam o homem. Este é justificado, da parte de Deus: 1) Pela graça: "Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente
pela sua graça, pela re­denção que há em Cristo Jesus" (Rm 3.23,24); 2) Pelo sangue de Cristo (Rm 5.9); e 3) Pela resserreição de Cristo (Rrn 4.25).

d)O meio da justificação. Aqui, sim, entra o papel da fé. Ela não é causa nem é fim. E meio entre a graça ajustificação. E a Bíblia nos dá luz sobre isso, quando diz: "Pela gra­ça sois salvos, por meio da fé ..."(Ef 2.8).

e) O resultado precípuo da fé. Em Rm 5.1, lemos: "Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cris­to". É o mesmo que dizer; justifica­ dos por meio da fé. A justificação faz parte da salvação. Esta vem da gra­ça, mediante a fé, resultando na "paz com Deus" por intermédio de Jesus Cristo.

f) As evidências da justificação. Nesse ponto, a Bíblia declara no cap. 2 de Tiago que "a fé se não tiver as obras é morta em si mesma" (v.17). Isto não é uma contradição entre os sacros escritos de Paulo e Tiago, pois ambos foram inspirados pelo mesmo Espírito. É que Tiago aborda ajustificação sob o ângulo dos efeitos, das evidencias, na vida do crente fiel, enquanto Paulo vê o assunto sob ângulo das causas da Justificação como ato perante Deus.

g)        Paulo também salienta as obras do salvo. Sim! Após dizer que a salvação não vem das obras (como causa), ele as severa que Deus nos fez, "criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas" (Ef2.10). As obras dos salvos são tão importantes, que Paulo diz que Deus "recompensará cada um segundo as suas obras". Ele dará "vida eterna,aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção"(Rm2.6,7),mas"indignação e ira" aos desobedientes, e “tribulação e angustia sobre toda alma do homem que faz o mal” (Rm 2.8,9)

CONCLUSÃO
Considerações finais sobre a fé e as obras: 1) A fé puramente intelec­tual não é a fé salvífica; 2) A fé salvadora é, também, fé servidora; 3) As obras aperfeiçoam a fé (Tg 2.22); 4)As obras justificam a fé (Tg 1.21); 5) A fé sem as obras (do salvo) é morta (Tg 2.17) e as obras (da lei, dos atos humanos, da carne - Gl 5 . 1 9; 2 Tm 1.9) sem a fé, são mortas; e 6) A fé salvífica tem que andar junta­mente com as obras do salvo, de­monstradas pela obediência em "san­tificação, sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb 1 2. 14).







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